Camadas, 2022

Madeiras guardam em suas características as memórias das árvores que um dia foram. As intempéries e a passagem do tempo, as condições do ar e da incidência de luz solar, ou a qualidade do solo, alimentam e marcam, permanecendo enquanto matéria sensível ao nosso toque e olhar. Nos desenhos dos veios podemos reconhecer formas abstratas e caminhos por onde a seiva, essência vital, uma vez circulou.

Na memória da vida desses suportes, Vinicius Parisi conecta tinta e gestos criando assim uma superfície onde o observador pode também se reconhecer. A partir desse processo a vida volta a pulsar: as texturas, formas e cores das madeiras utilizadas pelo artista, são atravessadas e se misturam com as camadas que constituem a experiência humana.

As pinturas que aqui podemos ver, revelam matizes e fragmentos de corpos humanos que funcionam como veículos de acesso. Ao nos colocarmos diante de cada uma delas, as sinuosidades, as interações cromáticas e as formas nos envolvem como manifestação daquilo que só um olhar atento para si revela: as gradações e as multiplicidades das subjetividades que formam o que somos.

Nesta nova série, o artista explora a natureza dos suportes e os conjuga com abstrações, manchas de cores das quais a figuração parece emergir. Da mesma maneira que as madeiras guardam testemunhos, as imagens construídas por Vinicius Parisi constroem sentidos e podem contar uma história. Basta ter um olhar atento às nuances e às camadas que se apresentam.




Lorraine Mendes, curadora

Instantes, 2022

INSTANTES é uma trilogia de trabalhos visuais que investiga a estética do tempo em três momentos. Sendo o tempo um conceito inerentemente humano, nada mais pertinente que analisar sua estética sob uma perspectiva humanista e individualizada, do tempo experimentado de forma diferente, em diferentes momentos por pessoas diferentes.

A pesquisa do tempo aplicada na produção, transborda nos trabalhos pois Parisi circula incessantemente pelas instâncias criativas de planejamento, produção e crítica, o que resulta num trabalho final genuíno e sólido no conceito, na técnica e na poética. De tal grau de intimidade, surgem contrastes como o da sutil e hábil camada de tinta preta que nos afasta por respeito, aplicada sobre veios expostos da madeira que nos convidam ao toque.

Para escolher caminhos de leitura, o observador é confrontado por conceitos universais, como o do tempo, resultando num processo de auto investigação de extrema relevância, onde a arte atua como um meio de transformação quando apoiada nos fundamentos da existência. Conceitos como o da formação do todo humano na sucessão de seus instantes são necessários para sermos incomodados pela ideia de que o tempo passa e nada permanece, para sermos direcionados à exaltação do sentir e de investigar as caixas empoeiradas nos porões bachelardianos de nossas mentes.

“Aventurar-se pelo desconhecido e fascinar-se por não compreender.” Parisi
Aventuramo-nos pelo desconhecido impulsionados pelo incômodo que suscita reflexões, causam mudanças a caminho da dignidade em ser humano. Aceitar e celebrar nossa efemeridade ao invés de nos contentarmos com a ilusão da eternidade.




Luciana Guilarducci, curadora